Já há alguns dias que não me apetecia escrever aqui - o calor apertou e, junto ao computador, estão 30 graus, mesmo às escuras e de ventoinha ligada (quando for grande hei-de conseguir arranjar um ar condicionado. Para já, como tenho a audição «condicionada», é para ela que dirijo as poupanças); a alegria de quase todos os dias redescobrir um novo / velho som tem-me posto eufórica e menos dada à escrita; algumas tarefas adiadas esperavam por um acto de coragem para serem realizadas; e.. não andava a apetecer-me!
O que tenho vivido nas últimas semanas, desde que coloquei o meu 4º «ouvido» (momento que coincidiu com uma subida da audição e da discriminação dos sons), tem sido de tal modo inebriante que dou comigo quase aos saltos de alegria por tudo e por nada, por coisas tão pequeninas, mas tão importantes: voltei a conseguir ouvir música ( já me aventurei com uma ou duas canções desconhecidas e pareceu-me distinguir a melodia ou, pelo menos, não ouvir só a batida de fundo, como antigamente) e os 15 minutos em que o fiz, sentadinha à sombra do quintal (e que bem que se está no campo!) a beber uma cervejita (sem álcool, claro, «medicamentos oblige» foram... um daqueles momentos perfeitos de pura felicidade a que nem sempre soube dar o devido valor!
Conseguir voltar a ouvir (e perceber) telejornais, reportagens inclusive ( que são sempre mais difíceis de entender porque, muitas vezes, não se vê a cara do repórter, o que impossibilita a leitura labial), perceber filmes falados em francês (dobrados - estão a ver o jeito que dá para fazer a leitura labial: os movimentos dos lábios não correspondem aos sons que conheço) ...
Ouvir o canto das rolas ao fim de tarde - bom, não consegui identificar o som sem ajuda, pensei que era música de um cd ou do rádio) sem, SEM PRÓTESES!...
Sentir o fresquinho da manhã de hoje, cedo, demasiado cedo, e ver o sol nascer debaixo de uma ligeira neblina que fazia adivinhar o dia de calor que ia estar...
Descobrir, depois de fazer um audiograma, que ainda melhorei mais um bocadito do ouvido esquerdo...
Apreciar o sossego deste fim de tarde e o pôr-do-sol lá ao fundo...
Conversar com amigos, sem pensar em trabalho, nem em doenças, nem em nada de especial; estar com eles, usufruir da sua companhia...
Quais Euromilhões, quais quê (atenção, se vier, é bem recebido, que não sou esquisita e o dinheirito dava algum jeito; não muito, mas para pagar o empréstimo da casa, para uns arranjos na dita cuja e para substituir o velhote do meu carro, que anda na pedincha prá reforma há anos!)!
Bastam cinco minutos de paz, ou de alegria, ou de partilha, para o mundo ser perfeito, ainda que no dia seguinte , ou até mesmo na hora seguinte, já não seja assim tão perfeito. Se em cada dia que passa conseguir encontrar um desses momentos perfeitos, acho que tudo o resto vai ser infinitamente mais pequeno. Que querem? Sinto-me feliz!
Nós, que ouvimos também com os olhos!
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