Segunda-feira, 30 de Junho de 2008

Com este calor, não dá!

Continuam pululando por aí seres cheios de sabedoria, tão cheios de certezas e de «eu acho que...», tão cheios deles próprios e da magnífica ideia que querem dar de si, que é bem provável que um dia destes rebentem numa nuvem de pó e que, após o arejamento imprescindível,  se resumam a uma ínfima imagem de vergonha por se recusarem a aceitar a sua condição de meros mortais,  não muito diferentes dos outros todos que eles criticam e aconselham com presunção.

O calor abrasador e repentino que me põe exausta com o mínimo esforço físico (ó pra mais um brinde do Síndrome de Cogan, comum a outras doenças auto-imunes, como a Esclerose Múltipla - oi M.! -, o Lúpus -oi, Lytha do http://diariodeumaborboleta.blogs.sapo.pt/ - e a Doença de Crohn - oi M.! -, para só mencionar as mais conhecidas!) e que , literalmente, me torra os miolos, impede-me de ter pachorra para tão sábios seres que ousam viver a vida dos outros melhor que os ditos, à força de se recusarem a viver as suas próprias! Lamento o tom agressivo, mas realmente a paciência, que nunca foi muita, começa a escassear! Sei há muito que não sou nem um pouco perfeita e embora muitas vezes isso não me agrade, já não é com tanta ligeireza que ouso opinar sobre o que cada um faz (excepção feita aos mais chegados e nem sempre!), pois descubro frequentemente que sou capaz de cometer os mesmíssimos erros.

Vivemos, de facto, numa época em que todos nos achamos com direito a emitir juízos de valor sobre os assuntos mais variados, com a mesma facilidade com que, por enquanto, abrimos a torneira para beber água; como dizia um professor que tive, «Hoje há especialistas em tudo e em coisa nenhuma; vão a qualquer jornal televisivo e dão a opinião sobre tudo, ainda que, muitas vezes, comecem por dizer bem, apesar dessa não ser a minha área, penso que.... Então, se não é essa a sua área, para que é que dão uma opinião, não me dirão?». Pois, professor, não sei bem por que razão o fazem, embora desconfie de que realmente são especialistas de «coisa nenhuma», ou melhor, são especialistas em não saber (con)viver consigo próprios!

 

 

 

A CONTAS COM A TREVA

 

Que ninguém diga que nasceu

como nasceu a água, o fogo ou o vento.

Que ninguém diga que pertence

à raiz, à fonte ou ao labirinto das vozes.

Que ninguém fale do que não sabe,

sob pena de errar e de mentir

para além do limite do que é tolerável.

Só de cima de um ramo alto e verde

se pode perceber a extensão do rio,

a imensidão da planície, a tentação do longe

desafiando os poderes da visão.

Um pássaro não pertence ao céu,

nem o poema  a um poeta.

Tudo é mais complexo e desnorteante,

podendo a simplificação conduzir

à loucura ou mesmo à morte.

Passa a água por onde passa a luz da estrela,

por onde passa o sulco de um amor antigo,

a dor de uma ferida que o tempo não sarou.

A morte é sempre atrás das janelas

que se pressente e se vigia, como um peixe

agonizando na solidão circular de um aquário.

Esta noite está morna e húmida

como um corpo depois da entrega total,

e essa é a única maneira que tem

de esconder a miséria de estar só,

a contas com a treva, no meio do universo.

 

José Jorge Letria, O Livro Branco da Melancolia

 

 

 

Rabiscado por... misal às 20:43
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