Andrea Boccelli e Laura Pausini
Andrea Boccelli e Gerardina Trovato
A mesma canção, interpretações diferentes. Música e letra belíssimas! Bom, das interpretações é mesmo melhor nem falar, mas ouvir, ver e «ouver»!
E das duas...«venha o diabo e escolha»!!
VIVERE (música de Angelo Anastasio e letra de Geradina Trovato)
Vivo ricopiando yesterday
E sono sempre in mezzo ai guai.
Vivo e ti domando cosa sei,
Ma, specchio, tu non parli mai.
Io che non potr? mai creare niente,
Io amo l’amore ma non la gente,
Io che non sar? mai un dio.
Vivere, nessuno mai che l’ha insegnato,
Vevere fotocopiandoci il passato,
Vevere, anche se non l’ho chiesto iodi vivere,
Come una canzone che nessuno canter?
Ma se tu vedessi l’uomo
Davanti al tuo portone
Che dorme avvolto in un cartone,
Se tu ascoltasi il mondo una mattina
Senza il rumore della pioggia,
Tu che puoi creare con la tua voce,
Tu pensi I pensieri della gente,
Poi di dio c’? solo dio.
Vivere, nessuno mai che l’ha insegnato,
Vevere, non si pu? vivere senza passato,
Vevere ? bello anche se non l’hai chiesto mai,
Una canzone ci sar? br> sempre qualcuno che la canter? br>
Qualcuno non mi basta.
Vivere cercando ancora il grande amore.
Perch? perch? perch? perch? br> non vivi questa sera?
Vivere come sai devessimo morire.
Perch? perch? perch? perch? br> non vivi ora?
Vivere per poi capire all’improvviso...
Perch? perch? perch? perch? br> la vita non ? vita...
... che in fondo questa vita tu non l’hai vissuta.
... perch? non l’hai vissuta.
Vivere cercando ancora il grande amore.
Vivere.
Vivere come se mai dovessimo morire.
Vivere.
Vivere per poi capire all’improvviso...
Perch? perch? perch? perch? br> la vita non ? vita...
... che in fondo questa vita tu non l’hai vissuta mai.
... perch? non l’hai vissuta mai.
Ti dico no,
Ti dico s?
Ti dico che
Ho voglia d? vivere.
Serão as emoções um bem perecível e, como tal, possuirão elas um prazo de validade? Será que uma vez removido para o passado o facto que a elas deu origem, ficamos sem razão para reagir quando dele nos lembramos? Será mesmo assim tão fácil passar uma borracha por cima do que nos aconteceu, não uma carteira que se perde, não um electroméstico avariado, não um corte de cabelo mal sucedido, mas um daqueles acontecimentos que nos deixa a vida revirada a tal ponto que durante muito tempo já não sabemos quem somos?
Se é certo que o tempo ajuda a suavizar a dor, dizem, pelo menos a senti-la de outra forma, menos presente, menos profunda, não é menos certo que quando deixamos de ser quem éramos e nos tornamos noutra pessoa, quando descobrimos em nós um novo eu, que integra o antigo eu, mas dele difere, a emoção reaparece no recordar de momentos, de pedaços de vida daquele que fomos. Saudades? Sim, muitas, à mistura com a certeza de que não é possível refazer o passado nem queremos fazê-lo.
Como é que deixamos de sentir aquela mágoa que foi tão nossa, mesmo aceitando o que nos aconteceu, mesmo andando em frente? Como é que apagamos aqueles instantes e a perda de uma parte de nós? Lembramos uma dor de dentes, o escaldão naquele primeiro dia de praia, o pastel de feijão que nos provocou uma...«catarse intestinal», e não lembramos os dias em que a nossa vida nos foi arrancada assim, de uma só vez, sem aviso prévio, nem entrega de indemnização?
Será possível cumprir com o coração a data de fim de consumo aconselhável? E será que esse prazo existe mesmo? E será ele igual para todos nós?
Aceitar não significa esquecer, não significa deixar de sentir, significa isso sim, o continuar a caminhar, apesar do coração apertado, dos medos, do refazer de projectos, do não saber o que sonhar. E, como tal, aceitar significa que doeu muito e que da próxima vez que lembrarmos o raio que nos fulminou, vai continuar a doer, talvez depois um pouquinho menos, talvez com o passado a invadir-nos de modo cada vez mais espaçado, talvez hoje só um aperto cá dentro e já não o dilúvio lacrimal de outrora...mas eu continuo a sentir, a sofrer, a rir, a sonhar, a desesperar, a perseverar, como dantes...mesmo se já não é exactamente como dantes!
Do outro lado do Atlântico, bem longe de nós, mas aqui tão perto, o povo brasileiro, através dos seus programas televisivos (novelas, documentários, programas de humor, entrevistas – nos canais generalistas e na TV Globo Portugal), através da sua música (Chico Buarque, Elis Regina, Bethânia, Milton Nascimento, Gal Costa, Tom Jobim, Vinicius de Morais, Caetano Veloso e ainda tantos outros), dos seus espectáculos de teatro e musicais que volta e meia aparecem por cá, da sua literatura (Jorge Amado, Machado de Assis, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e mais duas ou três, ou mesmo quatro mãos cheias de autores), através de tantos e tantos brasileiros que moram cá, da sua gastronomia, um povo que que fala e escreve a mesma língua que nós, portugueses - tanto quanto os EUA e o Reino Unido – , com cores, sons, texturas e cambiantes diversos, mas língua portuguesa!
E ainda mais perto, através da Internet, e por coincidência de situações, perda auditiva e uso do português para comunicar, os meus companheiros SULP (Surdos Usuários da Língua Portuguesa), no Orkut http://www.orkut.com/Main#Community.aspx?cmm=78601181 e no bloguehttp://sulp-surdosusuariosdalinguaportuguesa.blogspot.com/, a tentar lutar pelos seus direitos, pelo exercício de uma cidadania activa, pelo acesso à cultura na televisão, no cinema, no teatro, nos museus, nos meios de transporte, em todos os locais de que outros cidadãos, iguais a eles, iguais a mim, no ser pessoa, podem usufruir na sua plenitude, mas de que eles, como eu e muitos portugueses, se vêem privados devido às dificuldades auditivas e ao facto de se exprimirem em português.
E se nós nos queixamos por cá de tudo aquilo que ainda falta fazer em prol das pessoas com deficiência auditiva, utilizem ou não a língua portuguesa, utilizem ou não a língua gestual portuguesa, então leiam com atenção:
Comecemos pela televisão – estão a ver os desenhos animados e um ou outro filme que é dobrado em português? Pois, nós, deficientes auditivos, vemo-nos literalmente «às aranhas» para perceber o que é dito, ainda mais nesses, felizmente, poucos filmes, em que a posição dos lábios dos actores não corresponde ao que se ouve! Ok, mas no Brasil, todos os programas de origem não brasileira, documentários, filmes, séries, tudinho, são dobrados, portanto, ver televisão no Brasil, para quem não ouve ou ouve mal, é mentira! Nos cinemas, idem, legendas, não há para ninguém!
Museus com visitas guiadas…pois até parece que no Brasil vai havendo alguns intérpretes de língua gestual (língua de sinais – Libras), mas e se a pessoa não sabe língua gestual? Pois é! Teatro, lá como cá, ou se ouve bem, ou então, chapéu! Ah, cá em Portugal, se tivermos a sorte de ir ver -exactamente, ir VER- um musical estrangeiro, às vezes há legendas do que é cantado…em inglês, claro!! Então e se o deficiente auditivo não sabe inglês? Azar!….
Transportes públicos – nós queixamo-nos mas, pelo menos no metro o nome das paragens aparece escrito um pouco antes. Lá…já imaginaram, não é? Parece que as carruagens novas começaram agora a ter um sistema idêntico ao nosso, mas daí até toda a rede estar coberta…
Conferências, seminários, reuniões, nem cá nem lá!
Portanto, feitas as contas – e a procissão ainda só agora vai no adro – parece que no Brasil ser deficiente auditivo implica também o não ver televisão, não ir ao cinema, não ir ao teatro, não ir a um espectáculo musical (e os surdos gostam de música, sim, ainda que a oiçam e sintam de modo diferente!), não entrar em museus, não andar em transportes públicos, não participar em colóquios, conferências… Parece, não, é mesmo isso! O acesso a manifestações culturais é muitíssimo limitado – sim, se sabem ler, podem ler; sim, podem ir à mesma a museus, se lerem as tabuletazinhas com indicações e ignorarem tudo o que não seja ou imagem ou texto escrito; sim, podem ir à praia, aqueles que estão perto e gostam; sim, se pedirem ajuda a alguém, claro que podem usar transportes públicos! Agora, pense bem: gosta de ver televisão? Gosta de cinema? Gosta de espectáculos musicais e outros? Sim? Não? Certo, você tem o direito de gostar ou não, de ir ou não ir. E os surdos? Onde está o direito deles a poderem dizer que até não gostam de cinema e que é por isso que não vão?
A maior parte das pessoas com dificuldades auditivas, tanto cá, como lá, usa a língua portuguesa (escrita e/ou oral) no dia-a-dia. Falo de surdos severos e profundos oralizados, de crianças e jovens que perderam audição quando já falavam (e escreviam e liam, muitas vezes), de adultos mais velhos que foram perdendo gradualmente a audição, devido ao passar do tempo e, ainda, de todos aqueles que, como eu, adquiriram surdez em idade activa. Por que razão, então, excluí-los? Do mesmo modo, porque defendo o direito de cada um (ou dos seus pais, no caso das crianças) à escolha pessoal do seu modo de comunicação, por que motivo excluir os surdos falantes de língua gestual?
Há ainda um looooongo caminho a percorrer na inclusão dos cidadãos com deficiência ou necessidades especiais na sociedade, apesar de algumas leis (poucas, e muitas delas em pouco se aplicam aos surdos ou que prevêem medidas relativamente a eles), apesar de tantos discursos politicamente correctos da parte de políticos e outros.
Acredito, porém, que se os cidadãos em causa se unirem e batalharem activamente, poderão conquistar não privilégios, mas o direito ao exercício efectivo da sua cidadania. Se apenas nos queixarmos e nada fizermos…mais vale esperarmos sentados!
E você que está a ler-me? Por acaso é cidadão brasileiro? Mora no Brasil? Já foi visitar a comunidade e o blogue SULP? Tem deficiência auditiva ou conhece alguém que tenha? Já fez a sua parte? Já foi ler o manifesto SULP http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/3657 e já o assinou? Já se tornou membro dos SULP? E já fez algo de concreto enquanto tal? Sim, ok, continue, está no bom caminho! Não? Está à espera de quê? De que outros iguais a si façam todo o trabalho que você também quer ver feito?
Retomando o slogan de uma companheira SULP «PRECISAMOS DE AÇÃO E NÃO DE LAMENTAÇÃO!!!!!».
Sim? Pode repetir e mais devagar, por favor? Ah, porque é que «acção» só tem um /c/? Ó amigo, no Brasil é assim que se escreve…e aqui dentro de pouco tempo também, é hora de se habituar à mudança!!!
E se de repente, mesmo na hora de dares o salto para atravessares o riacho que está à tua frente, te recordasses que nunca foste muito bom em nenhum tipo de desporto e que até te chamavam «lula gigante» em criança, tal a confusão em que metias braços e pernas de cada vez que era preciso fazer qualquer actividade que exigisse um bocadinho mais de coordenação motora?
E se de repente, anos após aquele dia, horas e minutos esvaídos sem te dares conta disso, te lembrasses que sempre tiveste medo da água e que actos heróicos nunca foram o teu forte?
E se de repente, em pleno voo, sobrevoando um desfiladeiro imenso, te viesse à memória que tudo aquilo é um sonho e que não és nem um simples pardal, quanto mais águia afoita rumo ao infinito?
E se de repente, tudo aquilo que te sustinha e que durante muito tempo se ausentou voltasse e desses por ti, prisioneiro dos medos que julgavas ter vencido?
Ficarias imóvel, sem um suspiro nem um movimento que denunciasse a tua presença? Serias capaz de te rasgar e esquecer o passado? Ousarias saltar, voar, mergulhar bem fundo nesse riacho e nesses receios de te descobrires imperfeito, limitado, sem sombra de brilho?
Nós, que ouvimos também com os olhos!
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