Domingo de chuva...entremeado com momentos de sol!!!
A televisão partiu sem um ai, de repente, sem aviso prévio e eu, que não sou propriamente fanática de Tv, muito menos durante o dia, muito menos ao fim-de-semana, salvo para ver séries (policiais, de hospitais e outras), assim 1 ou 2 por noite, dou por mim a desejar ter um filmezito para ver, para escapar à fatalidade do trabalho - parece conspiração para deitar braços ao trabalho que anda em banho-maria de há uns tempos para cá!
O gato dorme, levanta a cabeça de vez em quando, confirma que é dia de neura e volta a dormir; assim como assim, se estivesse sol e muito calor, dormia na mesma, que vida de gato doméstico fez-se para não contar os minutos nerm as horas, antes as sestas, a comidinha e as brincadeiras a que volta e meia chama a dona.
O carro suspira lá fora, desejando que o banho grátis e inesperado lhe lave o pó há muito nele acumulado, prevendo de antemão que as manchas de óleo e de alcatrão continuarão a adornar-lhe a tinta já pálida, até que eu me decida a lavá-lo e, privilégio supremo a aspirar-lhe o interior.
As pilhas de roupas, lavada e suja discutem entre si a primazia, exigindo atenção, um ferrozito quente ou uma sabonária cheirosa.
O pó que se acumula pelos cantos em novelos maiores que o normal crava os seus olhos em mim, apelando à minha consciência que anda mais mouca que eu, embora não me deixe o sono muito leve.
Domingo cinzento, de chuva, a enganar o calendário e a alma!
Have You Ever Seen The Rain?
Someone told me long ago theres a calm before the storm,
I know; its been comin for some time.
When its over, so they say, itll rain a sunny day,
I know; shinin down like water.
Chorus:
I want to know, have you ever seen the rain?
I want to know, have you ever seen the rain
Comin down on a sunny day?
Yesterday, and days before, sun is cold and rain is hard,
I know; been that way for all my time.
til forever, on it goes through the circle, fast and slow,
I know; it cant stop, I wonder.
Chorus
Yeah!
Chorus
Sentes, Pensas e Sabes que Pensas e Sentes
Dizes-me: tu és mais alguma cousa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm idéias sobre o mundo?
Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:
Só me obriga a ser consciente.
Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.
Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.
Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.
Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra",
Digo da planta, "é uma planta",
Digo de mim, "sou eu".
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
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...porque ser diferente não significa ser melhor nem pior, nem estar contra aquele que de nós difere...significa apenas isso, ser outro!!!
Força aí, amigos SULP!!! Prá frente é que é o caminho!!! Vamos nessa!!!
As coisas estão no mundo
Só que eu preciso aprender
Paulinho da Viola
Eu, a medida de todas as coisas?
As coisas estão no mundo
e todos os dias me espanto com elas.
Espanta-me o grito profundo
dos violentos pássaros matutinos.
A pedra inerte
no meio do caminho
ou servindo de ariete
nas mãos do indignado estudante coreano
espanta-me.
Maior mistério não há
do que a cruel sucessão das estações,
ano após ano.
Assustam-me os sons
ecléticos do quotidiano:
buzinas, choros, canções.
Igualmente: o áspero açoite
do vento nas árvores
fragilizadas.
Como um insecto cego e iludido,
sou atraído pelo fascínio da noite.
O oceano emociona-me,
assim como as rimas pobres:
amor e flor,
coração e paixão,
por exemplo.
Odeio injustiças, mas cometo-as,
fingindo desconhecimento.
Eis a minha única certeza:
tarde ou cedo,
serei triturado pelo velho moinho da morte,
cujas velas reinam, obscenas,
sobre todo o azar
ou sorte.
Mas estou vivo
e estou no mundo.
Ignorante e sábio,
doce e agressivo,
cobarde e capaz
de descobrir a coragem
no fundo do medo,
ingénuo e cínico,
em incessante aprendizagem:
eu, a medida de todas as coisas.
João Melo, in Auto-retrato
É difícil para uma pessoa com dificuldades auditivas participar num evento social, podendo a experiência tornar-se tão dolorosa que muitas vezes o desejo de sossego prevalece sobre a vontade de conviver com os outros, dando a sensação de que somos um bicho-do-mato e ficando nós cada vez mais isolados.
Tarefa árdua é também tentar explicar aos outros, aos ouvintes sem problemas de audição, por que razão tantas vezes preferimos ficar em casa a ir a um café ou a um restaurante. Como explicar a alguém que consegue seguir uma conversa a um ritmo normal, com mais de 3 pessoas, que nós fazemos um sacrifício enorme para conseguirmos estar com quem gostamos num restaurante?
Num restaurante que até pode não estar muito cheio, apenas com 2 ou 3 mesas ocupadas, com uma televisão que até pode estar desligada (há dias de sorte, porém raros!), com o ar condicionado e as arcas refrigerantes ligadas, e o barulho das conversas nas outras mesas, e o ruído dos pratos e dos copos e dos talheres, e as bocas cheias de comida, transformando as posições normais dos lábios durante a fala, pessoas que por vezes falam ao mesmo tempo ou interrompem quem falava, mesmo mesmo quando estávamos quase a perceber o sentido da frase?!...
E dizer também que quando baixamos o olhar para o prato, para encher a colher de sopa, ou cortar um bocado de carne, ou espetar um bocado de batata, não conseguimos perceber nitidamente o que é dito, porque não vemos a boca de quem fala e porque não estamos concentrados no que é dito, mas na comidinha?
E que se vamos a um restaurante de comida italiana, ou brasileira, ou mexicana, ou chinesa, ou em que quem nos serve simplesmente tem um pouco de sotaque alentejano, quase precisamos de um intérprete para fazer tradução simultânea do que nos é aconselhado ou perguntado, mesmo que as «fichas mentais de vocabulário» estejam prontas para entrar em acção?
Bom, e que dizer das reuniões familiares ou de amigos, com conversas rápidas sobre assuntos conhecidos só de alguns, com crianças a correr e a gritar de um lado para o outro, com música a tocar em fundo, com gente que se levanta e senta a uma velocidade digna do Guiness, gritando, cantando, dançando, tudo ao mesmo tempo e conseguindo por vezes acertar mesmo no microfone da prótese, precisamente quando grita?
E como confirmar que numa festa ao ar livre a música em altos berros já quase nem nos faz confusão, porque como não percebemos ninguém, já desistimos e simplesmente nos «desligamos» de tudo? Há até quem se desligue literalmente (desligando as próteses auditivas - olé, N.!), há quem vá dizendo que sim ou que não, a intervalos regulares, deixando os outros falar e esperando que um sim ou um não até possa servir de resposta ou simplesmente de confirmação de que estamos a ouvir e a perceber, mesmo nem sonhando do que fala o outro.
E como fazer com que acreditem que sim, estamos a falar sinceramente quando dizemos que também fazemos leitura labial, que nem sempre chega o som e que, por isso, quando falam connosco há que olhar para nós e mostrar a boca, e que não, não é necessário falar muito mais alto nem tão devagar que quase parece que a deficiência que temos não é auditiva mas mental?
«Et pourtant» (o jeito que me dá o Léo Ferré, volta não volta!!)... há dias que até vale a pena, porque o prazer de estar com alguém que já não víamos há muito e de quem gostamos «aos molhinhos» faz pesar o prato da balança para o lado do sim! Foi o caso, uma noite destas, num baile (mais jantar que baile) de finalistas do 9º ano, em que pude rever os meus últimos meninos, abraçá-los e perceber só um pouquinho do que diziam, porque se esqueciam frequentemente que a «stôrinha» não ouve bem... mas como soube bem estar com eles, mesmo não sabendo exactamente sobre o que conversavam, sentindo apenas, com os «ouvidos do coração»!
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Festa, de Milton Nascimento
Já falei tantas vezes
Do verde nos teus olhos
Todos os sentimentos me tocam a alma
Alegria ou tristeza
Espalhando no campo, no canto, no gesto
No sonho, na vida
Mas agora é o balanco
Essa dança nos toma
Esse som nos abraça, meu amor (você tem a mim)
O teu corpo moreno
Vai abrindo caminhos
Acelera meu peito,
Nem acredito no sonho que vejo
E seguimos dançando
Um balanço malandro
E tudo rodando
Parece que o mundo foi feito pra nós
Nesse som que nos toca
Me abraça, me aperta
Me prende em tuas pernas
Me prende, me força, me roda, me encanta
Me enfeita num beijo
Pôr do sol e aurora
Norte, sul, leste, oeste
Lua, nuvens, estrelas
A banda toca
Parece magia
E é pura beleza
E essa música sente
E parece que a gente
Se enrola, corrente
E tão de repente você tem a mim
Com o calor aí, novamente, sem hipótese de ver o mar e estar com os pés fresquinhos (sem recorrer à banheira nem à mangueira de regar o quintal), o mar de novo, desta vez num vídeo mais longo, para ver se surte algum efeito!!
(canal de fernann123)
Maomé não vai à montanha... Deitar, fechar os olhos, inspirar, expirar, ouvir (com o som das próteses e do pc no máximo, claro,!) e tentar relaxar!
(canal de mcruz726)
PS: em caso de desespero, agarrar no carro e ir até à praia mais próxima!!!
Celebremos a vida e os bons pequenos momentos que ela nos traz e que nós também construímos. Olhemos para o lado da alegria, da partilha de afectos, da convivência, da troca de sorrisos e esqueçamos tudo o que desfeia os nossos dias e os torna mais sombrios...
Não há vida sem escolhos, sem voltas, reviravoltas, curvas e contracurvas, fins e recomeços, interrupções, pelo menos nunca de nenhuma assim me apercebi. Não há estrada sem erros, sem remendos, sem sonhos, ora pelo lado do sol e da maresia, ora pelo lado da dor profunda, aquela dor que cala até o grito na garganta de tanto que sufoca! Não há vida assim a direito, de alcatrão recente, sem buraco nem saliência, sem choro nem gritos, nem revolta nem luta. E porém, por breves instantes às vezes, por instantes mais longos outras, a vida suspende-se em cenas de pura alegria, de pequenos prazeres, de simples momentos que nos enchem o peito, a alma e o coração: um abraço àquele amigo, o encontro com os nossos, o riso louco e cúmplice perante uma qualquer trivialidade transfigurada em piada genial, uma melodia que nos transporta para outro local ou outro momento, o sol a brilhar na gota de água, o gato que se rebola pelo chão...
E é nesses instantes que vale tudo para parar o tempo e guardar cá dentro cada fragmento, cada segundo dessa felicidade, para depois, quando a tarde cai sobre nós arrastando consigo a noite, podermos abrir os braços à vida e sorrirmos ao dia que nos espera, inteiramente novo, absolutamente intocável ainda.
Uma espécie de céu
Um pedaço de mar
Uma mão que doeu
Um dia devagar
Um Domingo perfeito
Uma toalha no chão
Um caminho cansado
Um traço de avião
Uma sombra sozinha
Uma luz inquieta
Um desvio na rua
Uma voz de poeta
Uma garrafa vazia
Um cinzeiro apagado
Um hotel na esquina
Um sono acordado
Um secreto adeus
Um café a fechar
Um aviso na porta
Um bilhete no ar
Uma praça aberta
Uma rua perdida
Uma noite encantada
Para o resto da vida
(Refrão)
Pedes-me um momento
Agarras as palavras
Escondes-te no tempo
Porque o tempo tem asas
Levas a cidade
Solta me o cabelo
Perdes-te comigo
Porque o mundo é o momento
(repete)
Uma estrada infinita
Um anuncio discreto
Uma curva fechada
Um poema deserto
Uma cidade distante
Um vestido molhado
Uma chuva divina
Um desejo apertado
Uma noite esquecida
Uma praia qualquer
Um suspiro escondido
Numa pele de mulher
Um encontro em segredo
Uma duna ancorada
Dois corpos despidos
Abraçados no nada
Uma estrela cadente
Um olhar que se afasta
Um choro escondido
Quando um beijo não basta
Um semáforo aberto
Um adeus para sempre
Uma ferida que dói
Não por fora, por dentro
(Repete o refrão 2x)
Nós, que ouvimos também com os olhos!
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