Domingo, 26 de Outubro de 2008

Rochas...

Às vezes olhamos para alguém que conhecemos e vem-nos à ideia a imagem de uma rocha numa qualquer falésia, que resiste sempre à fúria secular do mar, ao vento, às derrocadas, à mão do Homem.

Às vezes olhamos para essa Rocha e apetece-nos ser como ela, forte, sempre de pé, enfrentando intempéries, avançando pelo mar em dias serenos e luminosos, ali, sempre ao sabor das ondas e da espuma, tão perto do céu, tão perto também da areia da praia.

A maior parte das vezes, porém, não conseguimos ver que essa Rocha tem cravado em si o peso do tempo e a força das marés, e que possui pequenas fendas, zonas já alisadas pelas águas, concavidades suaves mas reais...

É que a Rocha às vezes lembra-se de se deixar ir no vai-vem do mar, descansa por momentos nos seus braços de água, repousa tormentas e vendavais, antes de voltar a erguer-se, firme, eterna, imponente e,contudo, tão frágil também!

Rabiscado por... misal às 19:54
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I am a rock

A winters day
In a deep and dark december;
I am alone,
Gazing from my window to the streets below
On a freshly fallen silent shroud of snow.
I am a rock,
I am an island.
I've built walls,
A fortress deep and mighty,
That none may penetrate.
I have no need of friendship; friendship causes pain.
Its laughter and its loving I disdain.
I am a rock,
I am an island.

Dont talk of love,
But I've heard the words before;
Its sleeping in my memory.
I wont disturb the slumber of feelings that have died.
If I never loved I never would have cried.
I am a rock,
I am an island.

I have my books
And my poetry to protect me;
I am shielded in my armor,
Hiding in my room, safe within my womb.
I touch no one and no one touches me.
I am a rock,
I am an island.

And a rock feels no pain;
And an island never cries.

 

 Simon and Garfunkel, I am a rock

Rabiscado por... misal às 00:10
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Quinta-feira, 23 de Outubro de 2008

No news, good news...

Nem sempre é verdade, aliás não tem sido propriamente verdade, porque o trabalho apertou e o tempo não tem chegado para tudo... e o este corpo refém de uma doença auto-imune tem sido lembrado à força disso mesmo e tem exigido descanso!

Hoje, porém, no meio do cansaço, uma boa notícia a somar à da última quinta-feira. Eu explico: a audição mantém-se sem quebras nem oscilações e o fígado, eterno sacrificado dos efeitos secundários da medicação para a «Coganice» (quase 3 anos passaram desde que o Síndrome de Cogan se manifestou, já começamos a ser «íntimos»!!!), está a portar-se muito bem, com as transaminases bem abaixo do máximo aconselhável, pela primeira vez desde há já nem sei quanto tempo.

Desculpem, mas vou mesmo atirar foguetes e fazer uma festa... porque estou contente, por agora. O depois, logo se verá!

Umas santas noites!

 

Maria Rita, A Festa

Tou...:
Rabiscado por... misal às 23:41
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Sábado, 18 de Outubro de 2008

Dia de sol...

Poema Quotidiano

 

 

É tão depressa noite neste bairro
Nenhum outro porém senhor administrador
goza de tão eficiente serviço de sol
Ainda não há muito ele parecia
domiciliado e residente ao fim da rua
O senhor não calcula todo o dia
que festa de luz proporcionou a todos
Nunca vi e já tenho os meus anos
lavar a gente as mãos no sol como hoje
Donas de casa vieram encher de sol
cântaros alguidares e mais vasos domésticos
Nunca em tantos pés
assim humildemente brilhou
Orientou diz-se até os olhos das crianças
para a escola e pôs reflexos novos
nas míseras vidraças lá do fundo


Há quem diga que o sol foi longe demais
Algum dos pobres desta freguesia
apanhou-o na faca misturou-o no pão
Chegaram a tratá-lo por vizinho
Por este andar... Foi uma autêntica loucura
O astro-rei tornado acessível a todos
ele que ninguém habitualmente saudava
Sempre o mesmo indiferente
espectáculo de luz sobre os nossos cuidados
Íamos vínhamos entrávamos não víamos
aquela persistência rubra. Ousaria
alguém deixar um só daqueles raios
atravessar-lhe a vida iluminar-lhe as penas?



Mas hoje o sol
morreu como qualquer de nós
Ficou tão triste a gente destes sítios
Nunca foi tão depressa noite neste bairro

Ruy Belo, in "Aquele Grande Rio Eufrates"

 

 

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Rabiscado por... misal às 22:08
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Domingo, 12 de Outubro de 2008

"Serras, veredas, atalhos"...

Serras, veredas, atalhos,
Estradas e fragas de vento,
Onde se encontram retalhos
De vidas em sofrimento

excerto da canção Retalhos Da Vida De Um Médico,

letra de Ary dos Santos, música de Tó Zé Brito.


 

Que parte da nossa vida controlamos e que parte dela nos vai acontecendo sem que possamos sobre ela opinar e decidir? Até que ponto é que as nossas escolhas nos condicionam ou nos obrigam a transcender os nossos limites? Que parte da vida é opção, que parte é destino, acaso... ou Deus, segundo alguns? E que entidade determina essa parte, nós, "algum poder superior", ninguém?

 

A nossa vida é uma sucessão de momentos, alguns com nexos de causa-efeito entre eles, outros que apenas ocorrem por justaposição, podendo ser fruto de circunstâncias que nos são externas, ou decorrentes da vontade do eu/sujeito; há acontecimentos que nos parecem meras coincidências, outros que conseguimos explicar racionalmente, outros ainda que nos surpreendem pelo seu carácter  brusco e muitas vezes inexplicável.

 

Se é verdade que aceitamos com maior ou menor rapidez (dependendo da sua dimensão, do seu impacto em nós e das nossas forças na altura) os acontecimentos para os quais encontramos justificações, sejam elas decorrentes das nossas atitudes ou das atitudes dos outros, ou ainda aceitáveis à luz da razão,  já aqueles que parecem surgir do nada, modificando a rota que tínhamos delineado para nós são causadores de instabilidade e difíceis de superar.

 

 Para além da ausência de uma explicação plausível e tranquilizante para a ocorrência desses factos, tendemos inevitavelmente a comparar a nossa vida com a dos outros e a concluir que a nossa mais se assemelha a uma estrada com curvas e contracurvas e um piso acidentado, devido à existência de um número muito elevado de momentos não previstos à partida; já a vida dos outros nos parece uma auto-estrada sem portagem alguma, em que a sorte, ou o acaso, ou Deus intervêm na altura certa, evitando grandes escolhos e consequências mais ou menos funestas.

 

Só que, chegados aqui, uma questão se levanta - o que pensarão os outros da nossa vida? Será que a acham a estrada incerta que nós vemos ou será que nos invejam pelo caminho a direito que julgam que percorremos, tal como nós fazemos em relação a eles? Estará a avaliação dos acontecimentos dependente dos olhos dos que os observam ou dos sujeitos que os vivem? Poderão os mesmos factos ser julgados excelentes ou péssimos consoante ocorrem connosco ou com os outros?

 

 

Então... conseguiremos nós  avaliar de outra forma aquilo que nos sucede, tentando distanciar-nos um pouco, transformando catástrofes pessoais em mero acidentes de percurso e apreciando os pequenos nadas que acontecem? Será que, no fundo, o valor dos instantes que caracterizam a nossa vida depende apenas de uma questão de perspectiva?

 

Tou...: "barafundada"
Rabiscado por... misal às 20:33
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Quinta-feira, 9 de Outubro de 2008

Quem canta seus males espanta?

 

Sad Songs (Say So Much)
 

 

 

Guess there are times when we all need to share a little pain
And ironing out the rough spots
Is the hardest part when memories remain
And it's times like these when we all need to hear the radio
`Cause from the lips of some old singer
We can share the troubles we already know

Turn them on, turn them on
Turn on those sad songs
When all hope is gone
Why don't you tune in and turn them on

They reach into your room
Just feel their gentle touch
When all hope is gone
Sad songs say so much

If someone else is suffering enough to write it down
When every single word makes sense
Then it's easier to have those songs around
The kick inside is in the line that finally gets to you
and it feels so good to hurt so bad
And suffer just enough to sing the blues

Sad songs, they say
Sad songs, they say
Sad songs, they say
Sad songs, they say so much

 

 

(música de Elton John e letra de B.Taupie)

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Rabiscado por... misal às 00:45
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Domingo, 5 de Outubro de 2008

"Todo ser humano é um estranho ímpar"

Igual-Desigual

 

 

Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.

Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as acções, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou
                                                                                 [coisa.

Ninguém é igual a ninguém.
Todo o ser humano é um estranho
ímpar.

Carlos Drummond de Andrade, in 'A Paixão Medida'

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Rabiscado por... misal às 20:58
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Sexta-feira, 3 de Outubro de 2008

Mais uma vez!

 

 

Supertramp, School

 

Rabiscado por... misal às 12:13
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Quarta-feira, 1 de Outubro de 2008

Música de todos e para todos!

 No Dia Mundial da Música:

 

 

 

O Grupo Coral Mãos Vivas, composto por jovens com deficiência auditiva / surdez, interpretando uma música através da Língua Gestual Brasileira(Libras).


«Através dessa atividade extra-curricular, os alunos da classe especial da E. E. Julio Conceição, de Cubatão, SP, exercitam seus dons artísticos, sensíveis e criativos, além de reforçar a auto-estima através de uma proposta de sociabilização.
O documentário pretende compartilhar a sensação e o entendimento que os deficientes auditivos do Coral Mãos Vivas vivenciam em relação à canção que interpretam.»

Tou...:
Rabiscado por... misal às 16:01
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Heróis...

Para todos os pequenos-grandes heróis que conheci ao longo da minha vida, para aqueles que reencontro ou não, para aqueles que agora estou a conhecer e que todos os dias tentam ir um pouquinho mais longe, sem desistir, sem parar quando os obstáculos surgem e que vencem as lutas diárias e ainda têm o coração grande para nos acarinhar quando nos encontram e percebem que não estamos bem!

Para a minha Formiguinha, para a minha Pulguinha, para a minha Bruninha, para o meu Ricardo, para tantos e tantos meninos que conseguem sorrir, apesar de tudo...e que hoje reencontrei na figura do «meu» Yasha, menino-homem tão longe de casa, tão longe de todos e que me abraçou muitas vezes,  espontaneamente e também a meu pedido, do alto do seu metro e oitenta (será??) e me disse ainda com um bocadinho de sotaque «graças a Deus que não é cancro que tem»... ele que ficou só porque o cancro lhe levou a sua última âncora, num país que não era o dele!!!

Para todos aqueles que «voam até onde a alma os leva»...

 

 

OS HERÓIS NESSE INSTANTE

 

Os heróis não têm pequenos negócios,

nem expedientes obscuros que os sustentem.

Nascem e vivem para o êxtase da glória

sem saberem que é dessa matéria que são feitos.

Têm vidas iguais a todas as outras vidas:

sem história, sem fulgor, sem rasgo.

Poderíamos contá-las com uma frase apenas,

do género: nasceu aqui, teve esta profissão,

dois filhos do sexo masculino, depois

morreu na idade em que já nada

pode tornar a morte inesperada ou insultuosa.

 

Um dia, a centelha derrama-se,

num espasmo de luz, sobre as suas cabeças,

como um relâmpago ou uma inspiração divina.

despem a roupa decente da banalidade

e agigantam-se até à loucura total,

até à infinita dádiva, até à loucura.

Para trás deixam trincheiras ensanguentadas,

corpos mutilados, gente abismada

pela evidência brutal de tamanha coragem.

Tudo deixa de contar para eles: a vida,

a família, o emprego, os bens terrenos.

Têm asas de anjos sob os casacos cinzentos

e voam até onde a alma os leva.

Os heróis triunfam e morrem nesse instante.

 

José Jorge Letria, O Livro Branco da Melancolia

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Rabiscado por... misal às 00:45
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Nada sobre mim

Procurar agulha em palheiro...

 

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