Viver só faz sentido se for mesmo a sério, a vermelho e negro, a dor e lágrima, a amor-paixão, a muito tudo e nada a nada, arrancando cá de dentro a vontade de viver mais e mais, de chorar e de gritar se for preciso, rindo mais e mais, até de nós, aplaudindo a coragem, a ousadia, o dar de si aos outros e a si mesmo aquela força para andar no fio da navalha, se tal for preciso para chegar de vez ao Sol!
Meias-tintas, tons pastéis não são o meu forte, ao rosa-bebé prefiro a irreverência do vermelho, o grito sufocado do preto que recusa ser cinzento! Gostar mais ou menos de alguém não é possível para mim, o amor, a amizade, as emoções ou estão lá de verdade ou então não valem a pena! Fingir que sim ou que não repugna-me, só sei ser assim, espontânea, ainda que errando muitas vezes, ainda que julgando mal os outros e as situações e arrependendo-me amargamente depois, forçando-me a assumir o erro e a dizer essa palavra difícil, mas imprescindível, «desculpa!».
Por isso admiro todos aqueles seres imperfeitos mas autênticos, que assumem a sua verdade, que dão de si aos outros sem pensar duas vezes, que «põem tudo de si naquilo que fazem», como diria o poeta, ainda que tal autenticidade os consuma e lhes roube um pouco mais depressa a vida...por isso a paixão por Brel, Reggiani, Elis Regina, Simone, Eugénio de Andrade, Pessoa ( e alguns dos seus heterónimos), Sean Penn, Jack Nicholson, Al Pacino e tantos outros de que não me lembro agora...
Por isso a paixão por todos aqueles «meus» que me aceitam como sou e que dão deles tudo o que têm, inventando por vezes forças que já não tinham, para tornarem mais fáceis e mais doces os meus dias!
Why, Annie Lennox
(P.S. roubei o título do post ao escritor Stendhal, ao seu livro «Le rouge et le noir»)
Não há nada a fazer! Deve ser absolutamente inevitável no sexo feminino a compulsão crónica para ver filmes com histórias de amor com final feliz, do género: rapariga conhece rapaz, ficam louca e imediatamente apaixonados; quando tudo parece correr bem, acontece um imprevisto e separam-se, acabando por voltar a reunir-se, no final, após os problemas estarem resolvidos.
E não há mesmo nada a fazer! Quando o primeiro encontro se dá, já sabemos como o filme vai acabar mas, mesmo assim, ficamos ali coladinhas ao écrã, fungando volta e meia, disfarçadamente, derramando um caudal de lágrimas no fim, aliviadas por tudo ter corrido bem, como já prevíramos! E, estranhamente, somos capazes de ver o mesmo filme centenas de vezes, até sabermos todos os diálogos de cor e, mesmo assim, voltamos a vê-lo mais outra vez, sempre com a mesma emoção! «Sleapless in Seattle», «Notting Hill», «4 casamentos e um funeral», «Pretty woman», «O casamento do meu melhor amigo» e tantos, tantos mais! A Julia Roberts e a Meg Ryan, Richard Gere, Hugh Grant e Tom Hanks, entre outros, são aqueles que nos fazem chorar, enquanto aproveitamos para «lavar a alma», num daqueles actos tipicamente femininos que a maior parte dos homens estranha!
«Não há nada a fazer», dizem eles, «mulheres!». «Não há nada a fazer quanto a este comentário», digo eu, «homens!».
Lavemos, pois, a alma:
...o último bocadinho de um destes filmes, «Notting Hill» e a canção «She» aqui cantada por Elvis Costello (no original por Charles Aznavour, também autor da música).
... só para contrariar... o pc, que anda a querer despedir-se, e a Primavera, que anda a fazer-se cara!
Walking on the Sunshine por Katrina and the Waves, velhinha mas sempre boa para alegrar os pés e a alma!
Gene Kelly, no filme »Serenata à chuva» («Singing in the rain», no original)
«- Mas não achas estranho que, mesmo vindo de dois planetas diferentes, sejamos tão parecidos? (...)
- Se tu habitasses num vale profundo e eu viesse de um vale semelhante ao teu, não poderíamos escalar, cada um do seu lado, e dar as mãos no cimo de uma alta montanha? (...) Mesmo que fossem muitos os caminhos que levam ao cume, a montanha em si seria exactamente a mesma. E também devemos ser semelhantes, porque cada um de nós seria uma espécie de alpinista. Poderíamos levantar um grande monte de pedras no cume, e poderíamos sentar-nos em cima dele e recuperar o fôlego depois da longa escalada. Por uma vez poderíamos dar-nos ao luxo de esquecer os problemas do vale, porque os teríamos deixado para trás. (...)
- Queres dizer que vens de um planeta e eu de outro - disse, - mas que, apesar disso, podemos encontrar-nos na mesma montanha?
Mika anuiu:
- A questão não é de onde vimos, mas também para onde vamos. Temos origens diferentes, talvez muito diferentes; eu sou um mumbo, ao passo que tu és um mamífero. Mas com o passar dos anos, a minha espécie e a tua tornaram-se cada vez mais parecidas.»
Jostein Gaarder, Olá! Está aí alguém?
Aos anos que não pegava neste livro! Hoje fui buscá-lo, abri-o ao acaso e encontrei esta passagem, que me fez pensar nos «meus companheiros de luta» (os «Coganitos») e em todas as pessoas que cruzaram a minha vida pelos motivos mais diversos e que nela permanecem - porque quando parámos para descansar no alto da montanha nos encontrámos e conseguimos recuperar nos outros a força de que precisávamos para voltar a descer a montanha!
"Cigarra", cantada por Simone e por Milton Nascimento
Queres sempre recriar o mundo,
em vez de desfrutá-lo tal como ele é.
É uma atitude de déspota.
Talvez a coisa mais difícil seja...:
Saber perdoar a si próprio
os defeitos e os erros.
O que significa,
acima de tudo, saber aceitá-los.
Etty Hillesum, Diário 1941-1943
J'aurais aimé, ma belle,
t'écrire une chanson
sur cette mélodie
rencontrée une nuit.
J'aurais aimé, ma belle,
rien qu'au point d'Alençon
t'écrire un long poème
t'écrire un long "je t'aime".
Je t'aurais dit "amour",
je t'aurais dit "toujours",
mais de mille façons,
mais par mille détours.
Je t'aurais dit "partons",
je t'aurais dit "brûlons",
"brûlons de jour en jour,
de saison en saison".
Mais le temps que s'allume
l'idée sur le papier,
le temps de prendre une plumme,
le temps de la tailler,
mais le temps de me dire
"comment vais-je l'écrire?"
et le temps est venu
où tu ne m'aimais plus.
Jacques Brel (letra e música)
Infelizmente, não encontrei nenhum vídeo desta canção, apenas de outras do mesmo (e genial!) autor, compositor, cantor, «diseur»... mas a ideia fica - há que ousar viver o presente sem pensar "agora não, mas um dia"...
E a propósito disto, lembrei-me de um filme notável "O Clube dos Poetas Mortos" e de algumas máximas que o percorriam, a que dá o título a este post e outra, muito mais antiga, mas ainda tão actual, tantos séculos depois: "carpe diem"!
« mãe, cada palavra que me ensinaste repete mil vezes o teu nome. »
José Luís Peixoto
The Carpenters, Close to you
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